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História da Enfermagem em Terapia Intensiva


Como precursora da Enfermagem moderna, Florence Nightingale (Itália, 12/05/1820-Londres, 13/08/1910) trouxe contribuições que mudaram definitivamente os conceitos de cuidado e as estratégias empregadas para recuperação dos pacientes feridos durante a guerra da Crimeia (1853-1856). Em relação aos cuidados intensivos, seu trabalho pioneiro permitiu o desenvolvimento de práticas especialmente dedicadas aos pacientes gravemente enfermos. Florence providenciou a separação dos pacientes mais graves em ambientes mais próximos das enfermeiras, já que estes obtinham maiores necessidades de cuidado. A partir deste raciocínio, nasceram os centros de tratamento intensivo, posteriormente chamados de Unidades de Terapia Intensiva.

 
Florence Nightingale (Fonte: Guia dos Entusiastas pela Ciência)

A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) traz considerações sobre a importância de Florence Nightingale no fomento desta área, destacando a Enfermagem na construção do que hoje é uma especialidade de algumas profissões da saúde: 

"Florence estava à frente de seu tempo e sua percepção de que os pacientes precisavam de cuidados especializados, de acordo com sua condição, promoveu a queda da mortalidade demonstrada [de 40 para 2%]. Recebeu um apelido por entender que os pacientes precisavam de tratamento também no período noturno e que não era aceitável tratá-los apenas de dia [dama da lâmpada]. Percebeu ainda que o trabalho da Enfermagem, antes considerado secundário (era exercido por cozinheiras e prostitutas, que faziam-no como castigo), deveria ser pautado na mesma ciência exercida pelos Médicos" (Clique aqui para ler o texto da AMIB na íntegra).

Desde então, Enfermeiras e Médicos ao redor do mundo trabalharam para a construção de unidades especializadas no cuidado ao paciente crítico. Walter Edward Dandy nasceu em Sedalia (Missouri) e foi o médico responsável por criar a primeira UTI em Boston, em 1926 (clique aqui para ver a história de W.E. Dandy).

Florence Nightingale na organização das 
unidades e vigilância dos pacientes (Fonte: Guia dos Entusiastas pela Ciência)

Medicina Intensiva no Brasil

De acordo com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, as primeiras unidades precursoras de UTI no Brasil surgiram em 1950, com a importação de “pulmões de aço” pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia da USP, para que a ventilação mecânica pudesse fazer parte de unidades respiratórias da época. A primeira UTI respiratória do Brasil surgiu no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (HSE-RJ), em 1967. Com o número cada vez maior de médicos focados no cuidado intensivo e maior demanda de pacientes, surgiu a necessidade de se organizarem em sociedades para a troca de informações. Em 1977, ocorre, então, a fundação da Sociedade Paulista de Terapia Intensiva (SOPATI). Uma das grandes conquistas desta Sociedade foi a exigência de um Médico Intensivista presente 24 horas nas UTIs. Lembram de alguém com essa prática nas unidades? Sim, a nossa querida Dama da Lâmpada. Florence sinalizou a importância de cuidar dos pacientes não só durante o dia, como também à noite (este parágrafo é baseado na publicação do CREMESP sobre Medicina Intensiva. Clique aqui para acessar o texto completo).


Pulmões de Aço utilizados no tratamento da poliomielite (fonte: medicina intensiva)

Enfermagem em Terapia Intensiva

Na publicação de Mônica Alexandre Malta e Vera Médice Nishide, da Universidade Estadual de Campinas, marcos históricos da Terapia Intensiva são destacados com a contribuição da Enfermagem, como a criação da primeira unidade de vigilância a pacientes vítimas de Infarto Agudo do Miocárdio, precursora das atuais Unidades Coronarianas, em Kansas City, no ano de 1962. A partir de então, surgiram as diversas UTIs especializadas em  pacientes cirúrgicos, neurológicos, vítimas de queimaduras, portadores de crises respiratórias, renais, metabólicas agudas e, então, obstetrícia, pediatria e neonatologia. Ainda de acordo com a publicação, "as enfermeiras enfrentaram muitos desafios durante os anos de fundação das unidades intensivas e coronárias. A pesquisa e as aplicações clínicas aconteciam tão próximas que não havia tempo para o desenvolvimento de novas equipes de enfermagem."

Além da necessidade de desenvolvimento das habilidades no cuidado ao paciente crítico, havia ainda a exigência de conhecimento para lidar com os equipamentos das unidades. De acordo com as autoras, "apesar da transformação, rápido desenvolvimento destas unidades e o alto risco dos pacientes internados, as enfermeiras praticavam a humanização no ambiente de terapia intensiva, visando um melhor atendimento ao paciente, bem como aos seus familiares e redução do stress vivenciado pelo profissional que faz o cuidado integral a este paciente." (para ler o texto completo das autoras Mônica Alexandre Malta e Vera Médice Nishide, clique aqui).

Eu tenho muito orgulho de ser Enfermeira Intensivista e admiro muito história da Enfermagem nesta especialidade, visto que, ao longo do tempo nós tivemos papel de destaque no surgimento, funcionamento e aperfeiçoamento da modalidade no mundo. Atualmente as Unidades de Terapia Intensiva contam com uma gama de tecnologias avançadas para o suporte dos pacientes criticamente enfermos e a Enfermeira Intensivista trabalha de forma independente e sistematizada, liderando equipes de Enfermagem, prestando assistência de qualidade e desenvolvendo pesquisas e tecnologias para melhorar ainda mais o cuidado. Com melhores investimentos do poder público e interesse de mais profissionais da categoria, a Enfermagem em UTI tem grande potencial para desenvolver-se ainda mais no Brasil.


Modelo de UTI nos tempos atuais (fonte: Sou Enfermeiro)


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