Nesta publicação você vai conferir uma parte da minha trajetória de formação acadêmica até me tornar Enfermeira Intensivista. Todos nós temos desafios e aprendizados ao longo da jornada, não deixe de compartilhar comigo a sua história ao fim desta leitura. Vai ser incrível conhecer mais sobre você!
COMO TUDO COMEÇOU
Março de 2015: eu e minhas colegas da faculdade no estágio do Hospital Roberto Santos, em Salvador. Estávamos numa palestra sobre BLS/ACLS e, antes de começar, uma das minhas amigas contou que algumas conhecidas dela estavam iniciando a residência no hospital Sirio-Libanês. Eu fiquei 😱 -Uau! Que massa!- sabe quando você tem um estalo? Nesse dia, nesse momento, veio uma coisa dentro de mim que parecia dizer que eu tinha que tentar aquilo. Na mesma noite eu mandei uma mensagem pro meu pai e disse a ele que eu seria Enfermeira Residente do Sirio-Libanês. Ele achou o máximo, mas ficou com o pé atrás, né?! Muita fantasia... O tempo passou e eu me mantive 100% focada nisso. Era difícil fazer tudo. Eu tinha que dar conta das aulas da faculdade, do estágio, do TCC e ainda tinham as coisas de casa, afinal, minha roupa não ia lavar sozinha. Minha alternativa foi otimizar meu tempo. Eu comecei a responder todas as provas de processo seletivo que eu encontrava no Google. Todas. Era difícil demais achar tempo. Eu seguia respondendo e baixava os gabaritos. O que eu errava era o foco de estudo. E assim se passaram os dias. De manhã estágio, a tarde aula, a noite TCC, estudo e afazeres domésticos. No fim das contas, respondi em torno de 26 provas. A vontade de ser residente era maior que tudo, nada ia me parar. Nesse meio tempo eu tive crises de cálculo renal, minha casa alagou e eu tive que me mudar, meu TCC não foi aprovado pelo hospital para pesquisa de campo.... foi muito choro e desespero. Mas eu não queria saber de mais nada. Chegou agosto e as inscrições do Hospital Albert Einstein abriram. Conversei com meu pai, insisti bastante para tentar a prova como treino para o Sírio e consegui. Tem muita história entre essa conversa e minha aprovação no processo seletivo Kkkkk mas a realidade é dura meus amigos. Em novembro eu fiz a 1ª fase do Einstein, faltava 1 dia pro fim das inscrições do Sírio. E não, meu pai não tinha mais dinheiro, eu não ia mais ser residente do Sírio-Libanês. Naquele momento, a única coisa que eu tinha era o Einstein e, a partir daquele dia, ele virou o meu maior sonho. Passei entre os 15 candidatos para disputar 3 vagas na segunda fase, em 14º lugar. Quais as minhas chances?! Eu acreditava. Se eu não passasse, com certeza seria chamada para ser atriz do Centro de Simulação Realística kkkkkk... E assim fiz, dei o meu melhor! Pulei de 14º para 3º lugar e consegui minha vaga!
PRIMEIRO DIA NA RESIDÊNCIA
Acho que em todo hospital é parecido. Aquelas recepções, discursos e apresentações e então você vai conhecer o hospital. Mas se esse hospital é o Albert Einstein não fica tão parecido assim com outros lugares, não é mesmo?! Rsrs.. os primeiros momentos da manhã foram no mesmo setor onde fizemos a 2ª fase da prova. Todos se conhecendo e se reencontrando, encontrei os 2 enfermeiros que seriam meus companheiros nos próximos 2 anos e a preceptora. Minha residência foi multiprofissional, então conheci as colegas de farmácia e fisioterapia. Daí fomos conhecer os ambientes comuns do hospital, o refeitório dos funcionários (gente é o melhor do Brasil com certeza! E eu nem conheço muitos refeitórios por aí kkkkk). Depois fomos para uma sala com a preceptora, onde fomos apresentados ao programa da residência, nossas responsabilidades e como seríamos avaliados. Quando fomos apresentados a tudo, iniciamos as atividades práticas. Fui para a UTI adulto. S O N H O. Estrutura, tecnologia, privacidade aos pacientes, excelência de serviço, as enfermeiras???? Vocês acham que preciso falar das enfermeiras do Einstein, minha gente?! Exemplos! Grandes profissionais! Ao longo dos meus 2 anos aprendi DEMAIS! E a nossa roupa privativa? Rosa, linda e tinha meu tamanho! E ainda podia escolher manga longa ou curta kkkkkkk (pobre fica feliz com qualquer coisa né, Brasil?!) Enfim, unidade 15, onde tudo começou na minha vida. Fui escalada com o TE Linaldo. Ah, Linaldo... peça rara do Einstein, só quem conhece sabe! Kkkkk grande profissional que me ensinou, como diria ele "a diferença entre uma seringa de 5 e uma seringa de 10". A partir dali, foram dias de muito aprendizado. Os TE do Einstein (todos!) foram minha base para o aprendizado na prática de um banho no leito, macetes da assistência, posicionamento do paciente, administração de medicamentos, cuidados com dispositivos e tudo mais relacionado a assistência direta ao paciente. Eu nunca havia trabalhado na área, muito insegura, "crua", então desde o primeiro dia o Linaldo pegou na minha mão e me mostrou tudo isso e muito mais e eu sempre serei grata a ele e a todos os TE do Einstein pelo meu R1.
MEU PRIMEIRO CÓDIGO H
Quem ama um bom protocolo aí? Cara, como os protocolos do Einstein são incríveis.. E não é aquele negocinho bonito no papel não! A coisa é seguida à risca! No R2 a gente começa a tocar a unidade como um todo, não mais focados na assistência direta. No meio do programa eu já estava menos abestalhada kkkk, então já tinha mais noção das coisas. Estou recebendo o plantão e observo meu paciente hipotenso, taquicárdico sudoreico, nauseado.. com muita dor abdominal! Resumindo, "tava coisado"! Prontamente chamei o plantonista e o mesmo já correu pra lá. O paciente entrando no 1° PO (não lembro de qual cirurgia, mas lembro q ele tinha um alto risco de sangramento). Após avaliar o paciente, o médico suspeitou de sangramento abdominal, mas como o paciente já estava descompensando, ele precisava que fosse tudo rápido e me disse: "Jô, nós vamos acionar o código H", já me arrepiei né, pq eu já sabia como o protocolo era resolutivo e realmente salvava o paciente. O objetivo do protocolo é promover a identificação precoce dos pacientes com risco de sangramento, para as equipes do hospital já ficarem de olho e também atuar nas situações de sangramento com repercussão hemodinâmica. Quando iniciaram esse protocolo, 150 profissionais foram treinados. Pensa aí quanta gente focada em não deixar o paciente sangrar?! Enfim, bipei o código. Imediatamente todos os setores envolvidos me ligaram. Tomografia perguntou se precisava de sala, hemodinâmica ligou avisando que já tinha sala reservada 😱, centro cirúrgico também ficou na retaguarda, ultrassom subiu em menos de 5 minutos (EU TÔ FALANDO SÉRIO), banco de sangue subiu com 2 bolsas O- e uma série de tubos pra coleta (o protocolo também aciona uma equipe de ESPECIALISTAS EM COAGULAÇÃO, TURO POMMM?), laboratório também ficou a postos. DOIS AUXILIARES DE TRANSPORTE FICARAM DE PRONTIDÃO NA PORTA DA UNIDADE DISPONÍVEIS PARA LEVAR O PACIENTE PARA QUALQUER LUGAR. Ou seja, qual era a preocupação da enfermeira? Apenas preparar o paciente para o transporte, monitorar a hemodinâmica e administrar as medicações necessárias. Sem estresse, todos engajados, treinados e com o hospital inteiro à disposição para resolver qualquer problema! Resultado: o ultrassom já mostrou q o paciente tinha 1,5L de sangue no abdômen. Ele não tinha mais sangramento ativo, mas resolveram tudo, ele ficou super bem depois e nós com o dever cumprido! Esse dia foi inesquecível. É por isso que fazer residência no Einstein é diferente. O q você achou do código H? Já teve algum caso em ele seria perfeito?
APRENDIZADOS DURANTE A RESIDÊNCIA
A pergunta que todo intensivista queria que fosse fácil responder: até onde ir? Durante a residência tive um ótimo preparo para lidar com o limite terapêutico, priorizar a autonomia do paciente e saber lidar com famílias cujos patriarcas/matriarcas são tratados de forma curativa, intubados, passam por intervenções aos 90, 100, 103 anos... Apesar desse bom preparo e das reuniões semanais do grupo de cuidados paliativos, não quer dizer que frente a frente com paciente e família iria ser fácil. Durante o R1 o residente Einstein presta cuidados integrais a 1 paciente e nesse dia eu fiquei com o paciente X, do leito 1 da unidade 18. Câncer abdominal super avançado. Peguei meu plantão focada nos cuidados, banho, exame físico, etc, deixei para ler sobre a história dele quando fosse sentar para fazer a evolução. Ok, segui para o leito, o paciente poliqueixoso, com muita dor, morfina de horário, mas não tolerava nenhuma posição na cama por mais de 15min. Começava a gemer bastante e eu até me perguntava "será que ele não está confuso?!" Enfim, ainda aprendendo a melhor forma de avaliar esse paciente eu comecei a me preocupar cada vez mais e busquei ajuda da minha enfermeira de referência, que, confesso, nesse momento me deixou um pouco de lado devido suas prioridades no plantão (no fundo eu não queria nem saber o que ela estava fazendo, queria era que o meu paciente parasse de sentir dor. Mas hoje eu vejo que talvez tenha sido a forma dela me fazer quebrar a cabeça e achar uma solução, ou talvez os outros pacientes realmente tinham prioridade.. naquele tempo eu não conseguia ver bem o "todo"). Enfim, eu olhava nos olhos dele e ele dizia "ME AJUDA!", aquilo foi me consumindo e eu não sabia mais o que fazer, analgesia no talo e toda vez que eu chamava a minha enfermeira referência ela dizia "peraí, já vejo" eu fui ficando p*** com a situação e achava inadmissível aquele paciente gemendo e a gente sem fazer "nada". O plantão passando e eu entrando em desespero, fui atrás da minha sênior (enfermeira superior à minha referência, responsável pela nossa unidade), e quando comecei a falar o que estava acontecendo, as lágrimas começaram a cair e eu revoltada com a situação só sabia falar que a enfermeira não estava fazendo nada pelo paciente! Que não tinha como uma pessoa passar a manhã gemendo de dor e a gente só medicar (o que mais poderíamos fazer?). Ela olhou pra mim, pediu pra respirar, ter calma. E me disse que nós estávamos fazendo o possível por ele, só que diante da situação da doença e com uma família que não aceitava os cuidados de fim de vida, o que tínhamos em mãos era o que já estava sendo feito. Fui tomar um ar, voltei, olhei para o leito e 1 milhão de insights começaram a surgir. A UTI do Einstein era aberta, os familiares poderiam ficar 24h ao lado do paciente. Cadê aquela família que eu não estava vendo ali? A família que tanto queria ver ele vivo mas não estava ali compartilhando da dor dele PARA SE MANTER VIVO? Confesso, nesse momento julguei, me revoltei, quebrei minha cabeça... julguei a equipe médica que "aceitava" isso, julguei os cuidadores, que na minha cabeça deveriam se posicionar e deixar tudo claro com os familiares, julguei minha enfermeira referência... Porque um ser humano com uma doença tão avançada tinha que passar por aquilo? Porque não dar conforto? Porque não sedar, porque não tirar da UTI e deixar ele num quarto silencioso, com uma vista linda, com os netos em volta..?? Porque não deixar esse homem com uma história morrer em paz? Enfim, sofri nesse dia. O plantão acabou e as 13h teríamos reunião. De que grupo? Exatamente. Grupo de cuidados paliativos. Caiu como uma luva. Eu tímida, olhando todos falarem e nada de falarem desse paciente. De repente um residente questiona sobre o paciente X do leito 1, da unidade 18.. soltei o verbo kkkkk claro, ainda tímida, mas minha pergunta era "porque ele ainda está na UTI?" E foi nesse dia que eu aprendi que a MINHA opinião, as minhas crenças, os meus conceitos, não são iguais aos dos outros e que não é por que eu acho tal caminho melhor, que é o que o paciente deve seguir. Além da equipe da UTI, da família e do paciente, ainda existe a equipe clínica, cirúrgica, psicologia, etc.. vários profissionais com várias culturas e histórias diferentes que têm impacto sobre a vida e as decisões relacionadas àquele paciente, que infelizmente não tinha mais condições de ter sua autonomia exercida. Aprendi o quanto nós, profissionais de saúde brasileiros somos despreparados, o quanto nossa cultura interfere na luta incessante pela vida. A gente cria vínculo com a família no último suspiro, quando deveria ser desde a admissão. É muito difícil tanta gente pensando sobre uma pessoa. De lá pra cá aprendi DEMAIS, ainda falta muito! São muitos conflitos dentro de mim. Mas esse caso me ensinou demais e eu jamais vou esquecer. Até onde ir? Você saberia dizer?
QUANDO O CORPO FALOU
Passar em uma das maiores residências do país é muito bom! É motivo de orgulho, felicidade, sua família e seus amigos vibram por você. Mas não é só isso. É desafio, é mudança, é vida nova, convivência com muitas pessoas e culturas novas e zero familiaridade com toda e qualquer coisa. Até o jeito de se vestir tem que mudar por que o clima é diferente. Sair da Bahia para São Paulo, ser reconhecida pelos colegas, professores e amigos como um exemplo de superação, força, etc... é muita responsabilidade. Ao mesmo tempo em que você é grata, você pensa em dar o seu melhor para não decepcionar aqueles que acreditam em você. E é aí que a conta vem. Me mudei de Salvador pra São Paulo, já estava fora de casa há 5 anos e minha mãe esperava que eu voltasse pra Irecê depois de formada. Ao invés disso, fui pra mais km's e km's de distância, sem nem saber onde ia morar, com a cara e a coragem. A residência começou em março, em maio começou a esfriar e a sobrecarga começou a comprometer meu psicológico. 60h semanais e até mais, plantões, pós-graduação, estudos de caso, reuniões, correr dobrado por que, sim, meus colegas chegaram mais preparados que eu na residência... E tudo isso morando sozinha, só encontrava com meu namorado nos finais de semana e quando minha mãe ligava eu não ia dizer que estava difícil... cabeça pesou! E aí começaram alguns sintomas.. minha cabeça coçava bastante, ficava irritada, chegava a ferir.. eu achava q era o tempo úmido, sei lá... A pele começou a ficar com muita espinha, a autoestima caiu, o coque alto que eu usava virou um cabelo baixo, de lado, pra ninguém notar as feridas... mal sabia eu que estava ficando doente. Em setembro eu estava me olhando no espelho e foi aí que eu percebi que tinha perdido metade da parte de trás do meu cabelo. E não tinha visto nada! Me consultei com uma dermatologista, mas ela não foi muito atenciosa. Passou creme para o rosto, loção para o cabelo e fim de papo. Não melhorei.. o cabelo continuou a cair, ficou pior.. Mas a residência ia parar por causa disso?! Jamais... tudo continuava no mesmo speed, eu tinha que continuar! Enfim chegou dezembro e minhas férias... na Bahia, fui numa dermato muito boa que, de cara viu qual era meu diagnóstico. Alopecia Areata! De origem autoimune.. desencadeada por picos de estresse. A minha forma é a mais grave, que se apresenta com a perda progressiva do cabelo de trás pra frente ou da frente pra trás.
A minha maior sorte é que foi de trás pra frente! Então ninguém percebia! E graças a Deus e a essa médica maravilhosa, comecei meu tratamento com infiltração de corticoide na cabeça, doses cavalares de corticoide VO, uns quilinhos a mais e cara de bolacha pra contar história rsrs... Ao longo do tempo os sintomas melhoraram e já tinha cabelo crescendo até na orelha! 😂😂😂😂 mas a principal questão dessa doença é que você tem que cessar o que desencadeia o estresse! Ou seja, basicamente, era sair da residência kkkkk.... jamaisssss! Eu não ia chegar até onde cheguei pra sair. Continuei firme na minha luta diária, o R2 chegou, TCC com 31 variáveis pra avaliar e só eu e minha preceptora trabalhando num artigo que iniciou com 9 autores kkkkkkkkk... gente, não foi fácil! Finalizei o R2 com várias avaliações comportamentais ruins, ajuda psicológica, remédio pra dormir, crises de ansiedade e muita garra.. levantando 4h30 da manhã e chegando 21h, 22h em casa. Foi foda! Mas eu acabei, me formei, passei um total de 0 (ZERO) dias desempregada e realizada DEMAISSSSSSSS, feliz de realizar o maior sonho profissional da minha vida, que era trabalhar no Instituto do Coração do HC FMUSP. Se eu tivesse que escolher, passaria por tudo de novo! Só não teria ido morar tão longe do hospital rsrsrs... VALEU A PENA e sou muito grata pela força que Deus me deu e a todas as pessoas que Ele colocou no meu caminho pra me ajudarem. Mas nem todos superam, muita gente tem que parar no meio do caminho e tudo bem! Porque a gente tem que conhecer nosso limite. É por isso que hoje eu compartilho minhas experiências. Assim consigo ajudar mais e mais pessoas a enfrentarem essa fase com menos sofrimento.
JORNADA DE TRABALHO
Toda residência deve ter o mesmo escopo: 60h semanais, 80% práticas, 20% teóricas. Como essa divisão fica, é critério da instituição. No meu caso era uma agenda bem cheia e não éramos poupados nos finais de semana e feriados como nos outros programas do Brasil. A cada 15 dias a gente dava plantão no fim de semana (ou sábado ou domingo) e no feriado sempre tinha um residente escalado também. O bom era que isso nos dava um pouco de espaço durante a semana. A parte teórica era MUITO RICA!!! No R1 nós tínhamos a pós-graduação às terças e quintas, ao longo da semana tinham as reuniões às 13h dos grupos de medicina: hemodinâmica, cuidados paliativos, neurologia (esses eram os que a gente mais participava, pois eram às segundas, quartas e sextas) entre outros... reuniões muito ricas com estudos de caso e discussões com os melhores profissionais do Brasil e de vez em quando ainda tinham apresentações internacionais (numa reuniãozinha ali "de nada")... eu também participava das reuniões do GMA (Grupo Médico Assistencial) de pacientes graves 1 vez por mês (cada residente ficava em um grupo). E além dessas reuniões, nós também tínhamos as reuniões multiprofissionais e de enfermagem, com apresentações temáticas, aulas com professores convidados e discussão de casos. Tbm tivemos curso de estatística, semana de neurointensivismo, participamos de congressos Einstein, incluindo cardiologia, hematologia, resposta a catástrofes, entre outros, com renomados profissionais do mundo! Geralmente as reuniões duravam 1h e nós participávamos durante ou após o almoço (algumas não eram obrigatórias). Os plantões eram de 12h, em geral nas segundas, quartas e sextas + um dia no fim de semana. Plantões de 6h nas terças, plantões de 6h + reuniões de enfermagem nas quintas. Era corrido! Esse escopo tinha algumas variações da semana conforme a escala de cada um. Nas terças e quintas das 19h às 23h fazíamos a pós graduação, eu chegava em casa as 00h ou mais para estar no plantão no dia seguinte às 07h. Por isso a importância de morar perto do hospital! Muitos programas de residência no Brasil têm eventos e aulas a noite. No R2 não tinha a pós, nossa carga horária teórica era o desenvolvimento do TCC mas eu consumia bem mais que o permitido por que meu banco era muito grande e eu só podia coletar no hospital. Mas foi bacana por que ficou um trabalho bem legal! Além disso nós éramos dispensados das reuniões de medicina pois a responsabilidade na unidade era maior, então nosso foco era na assistência. Foi bom demais! Fecho os olhos e me lembro das coisas que aprendi, dos pitacos que dava nas reuniões do GMA, das apresentações que fiz.. A primeira foi sobre encefalopatia hepática kkkkkkk foi péssimo kkkk mas ok, depois fui aprendendo. Até que veio uma apresentação sobre Centrimag em que os enfermeiros que mais admiro lá no Einstein me assistiram e me deram 10 rsrs saudade desse dia! Saudade da vida de residente, mas não do sofrimento de residente rsrsrsrs... No R2 também passei 1 mês na UTI da UNIFESP, que foi muito enriquecedor. E por último, no finalzinho, 1 mês de plantão noturno, que também amei! Nunca fui residente de outro lugar, mas sempre digo que a minha residência foi a melhor do mundo! Muito aprendizado, lembranças que levarei pra sempre no coração!
PARA VOCÊ QUE ESTÁ COM MEDO:
Muitos estudantes vem conversar comigo sobre o domínio das técnicas, a prática no final da faculdade, o estágio... E compartilham a angústia de não estarem preparados para trabalhar sem supervisão do professor/preceptor. O post de hoje é pra você que acha que não sabe nada e não vai dar conta na hora que entrar no primeiro emprego. Muitos podem discordar de mim, mas o que eu vou dizer é a mais pura verdade: a maior parte das faculdades particulares brasileiras tem um PÉSSIMO campo de prática. Eu tenho muito a agradecer a minha faculdade pelas oportunidades que eu tive e que foram determinantes para que eu chegasse onde cheguei, mas de fato, na época em que cursei foi bem desesperador passar pelo ano de estágio. Era um curso novo, sem tradição no mercado, os hospitais não aceitavam as turmas para estágio. Nossa turma teve a excelente oportunidade de estagiar num dos hospitais referência do estado e foi muito bacana, pois rodamos em diversas áreas durante 6 meses. Mas agora vou contar as minhas decepções enquanto estudante kkkkk.. gente, eu não me sentia preparada, cheia de conflitos na cabeça, TCC para preparar, as matérias pra dar conta... enfim, nosso estágio durou 6 meses e nós rodamos em vários setores. A grande vantagem é que vimos de tudo, porém quando começávamos a entender a rotina, a gente mudava de setor. Uma pena. Sobre praticar os procedimentos que todo estudante deveria praticar: passei um total de 1 SNE em 6 meses, puncionei umas 4 vezes, aspirei vias aéreas 1 vez, banho só em bebê, 2 trocas de curativo e foi isso. A parte de Processo de Enfermagem foi excelente, conseguíamos fazer exame físico, escrever, estabelecer vínculos com os pacientes e isso foi super bacana. Também fizemos um estudo de caso e aprendemos muita coisa. Rodamos no alojamento conjunto, pediatria, emergência, clínica médica, centro cirúrgico.. deu pra aprender muito! Mas eu não tinha noção disso, eu achava que tinha obrigação de fazer tudo até pegar mão e me sentir pronta (meio óbvio, né? Quem não?) e pra completar, nos dias de rodar logo na UTI que era minha paixão (foram 2 dias de VISITA TÁ? SÓ PRA CONHECER!), minha casa ALAGOOOU e eu estava sozinha, alagou todo o meu quarteirão, perdi vários móveis, roupas... enfim..
Fiquei uns 3 ou 4 dias sem ir resolvendo minha casa e perdi a parte q eu mais gostava. Bom gente, o fato é que EU NAO GOSTEI DO ESTAGIO HOSPITALAR! Mas qual é o meu intuito contando essa história sobre a faculdade? É falar pra você, estudante de faculdade particular, bolsista do ProUni ou até mesmo de alguma pública que não tenha um curso tão bom (difícil, por que as faculdades públicas são EXCELENTES).. Mas enfim, é pra você que de alguma forma está insegura nesse último ano, com muitas incertezas, com muita coisa pra dar conta, nervosa com o TCC... VOCÊ É FODA! Você vai conseguir passar aquela sonda sozinha, você vai saber descrever aquela lesão, você vai puncionar aquele periférico e o mais importante: você vai saber a hora de pedir ajuda! Eu não tenho a menor dúvida disso! Eu sei que tá difícil, eu sei que é foda passar perto do pessoal da Federal e ver que eles tiveram 5 anos de prática, tiveram um ensino de qualidade e provavelmente estão alguns passos na sua frente.. Mas vc também é capaz! Não tenha medo de expor seus medos e suas inseguranças. Todo mundo tem a sua primeira vez. Sabe qual é o segredo? ESTUDAR. Estudar de um jeito que você consiga ter em mente cada passo daquele procedimento. Eu tenho certeza que você vai conseguir. Eu passei por isso e consegui cursar uma das melhores residências do Brasil e hoje sou funcionária do lugar que eu sempre sonhei! O MELHOR HOSPITAL DE CARDIOLOGIA DA AMÉRICA LATINA! Porque você não conseguiria? Então fica tranquila, uma hora você vai aprender e vai dar tudo certo! Eu confio em você! 💚
FORMATURA DA RESIDÊNCIA
Enfim, chegada a tão sonhada formatura da residência! Mesmo sabendo que ainda teria alguns plantões para finalizar a carga horária, a cerimônia é um momento em que a "ficha cai", EU SOU ENFERMEIRA INTENSIVISTA PELO HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN.... Quantas pessoas sonharam com isso e eu estou aqui, desfrutando dessa realização...!!! Foi um dia inesquecível, corrido, dei plantão de manhã rs, minha mãe veio da Bahia só para esse momento, eu estava em êxtase. Confesso que 50% era alívio. Quem foi residente sabe, o último trimestre (pelo menos) é praticamente piloto automático, a exaustão toma conta do seu corpo e você só quer terminar rs.. Tem TCR, angústia, ansiedade, medo do desemprego, processos seletivos a procurar, os plantões, a felicidade de estar acabando, a tristeza de estar acabando rsrsrs... Foi bom demais. Vivi o meu sonho Einstein com toda a intensidade que eu podia e que merecia.
Fui do céu ao inferno inúmeras vezes, cresci, construi, desconstrui, reconstrui, quebrei a cara, aprendi, sorri demais!!! Mesmo estando lá eu me perguntava se realmente eu estava vivendo aquilo e até hoje me pergunto se não foi um sonho. E quando acabou, no dia 8 março (por que eu tinha horas a pagar kkk), eu tive minha última RCP digna de Grey's Anatomy que me renderia outra história aqui kkkkk.. Mas o fato é que a partir dali eu me dei conta de que tudo só estava começando, por que eu já estava contratada para trabalhar no lugar que eu sonhava desde a faculdade..

Como descrever tudo isso? Me formar pelo ProUni, ser residente num hospital dos sonhos, ser contratada no hospital dos sonhos, dormir, sonhar e quando acordar se dar conta de que é real?! Só uma palavra poderia definir isso: GRATIDÃO! Me lembrei de todos que estiveram ao meu lado e me ajudaram para que eu chegasse naquele momento. Nunca vou esquecer de tudo que vivi ali e jamais imaginei que um dia daria aulas numa instituição tão renomada. Então só quero dizer a vocês: nunca duvidem da sua capacidade de conquistar seus sonhos! Vocês vão conseguir! E nunca esqueçam que tem um cara chamado DEUS que vai dar forças toda vez que vocês chorarem e pensarem em desistir. Nunca percam a fé nele!
E, ENFIM, O SONHO SE TORNOU REALIDADE
"Jô, em que área você quer atuar? -Eu quero fazer pós em cardiologia e hemodinâmica e quero um dia ser Enfermeira do Instituto do Coração". Era assim que eu respondia quando as pessoas mais íntimas me perguntavam sobre o futuro. Claro que essa resposta era antes de conhecer o mundo da Terapia Intensiva, né?! Hahaha e claro que eu também não gritava pra todos os cantos, por que achava quase impossível e tinha receio das pessoas rirem da minha cara kkkkkkk, mas aí veio a residência no HIAE e como diziam que eu tinha uma puta SORTEEEEE kkkkk porque não acreditar que eu também teria a SORTE de entrar no lugar que tanto sonhei? Esse sonho ficou dormindo desde que terminei a faculdade. Com a carga horária da residência eu nem tempo tinha pra pensar em nada. Mas qual a probabilidade de você estar no final do R2, ficar sabendo do processo seletivo do hospital que você sempre sonhou 1 dia antes de encerrarem as inscrições e conseguir participar em cima da hora? "Nunca foi sorte, sempre foi Deus". A transição de Enfermeira Residente para Enfermeira Intensivista foi bem corrida, nada fácil como tudo que eu tinha vivido até lá. Mas quantos Enfermeiros no Brasil tem a SORTE de não ficar nenhum dia desempregado após formado? O processo seletivo do Incor iniciou em dezembro e terminou em janeiro, eu finalizaria a residência em 28 de fevereiro e nesse meio tempo tinha apresentação de TCR, formatura, plantões... correria! Contei com o apoio das lideranças do programa de residência para que pudesse participar das fases do processo seletivo e tudo começou com uma prova teórica.. não me lembro ao certo quantas questões eram, mas não era uma prova generalista, era voltada para cardio, UTI e emergência. Quem não era especialista nessas áreas dificilmente passaria. Dias depois veio a prova prática e entrega dos comprovantes dos títulos e por último a dinâmica de grupo. A baiana de Irecê tinha colocado os pés no Incor... Meu Deus, quantas coisas se passaram na minha cabeça.. quanta gratidão em poder desfrutar daquela oportunidade! O tempo passou e o resultado saiu.. das 20 e poucas vagas eu passei em 3° lugar.. mesma posição em que passei na residência 2 anos antes e quem me conhece, sabe que 3 é meu número da SORTE hahahaha é inacreditável a forma que Deus me deu forças e me capacitou pra chegar até ali. Vinha na cabeça a luta da minha mãe pra me colocar na faculdade, os desafios pra garantir a bolsa no ProUni, a falta de dinheiro em diversas ocasiões durante o curso, os dias INTEIROS na faculdade estudando sem dinheiro pra comprar comida, o dia em que minha casa alagou, o dia que chorei por tantos problemas no meu TCC e acabei desistindo, o dia que tive que desistir do estágio extracurricular, os vários dias que sai de casa de manhã sem saber o que ia jantar a noite, os eventos que eu participava como hostess e entrava nas palestras só pra aprender e pedia o certificado para as colegas no final... eu tava de alma lavada! Conquistei meu maior sonho....!!!! Era chegada a hora de virar Enfermeira, sem notas, sem provas, com mais responsabilidade ainda e muita coisa adiante para aprender.. Felicidade, gratidão e ansiedade eram a definição! Então começou o período de adaptação, os dias de integração, contando com o apoio da chefia para terminar os últimos dias da residência e contando com o apoio da coordenação do programa de residência para que tudo desse certo. Em outro dia conto a vocês como foi meu primeiro dia na UTI do Incor, rs 💚 Nunca duvide do que Deus prepara pra sua vida. Nunca!!! Hoje pode parecer difícil, falta de tempo, falta de oportunidades, falta de dinheiro, falta de apoio, excesso de atribuições (trabalho, casa, marido, filhos... ou o drama do desemprego)... NÃO MENOSPREZE TEU SONHO por conta das dificuldades diárias. Vc é mais forte que tudo isso e vai conseguir ter a mesma SORTE que eu tive!
Show! Parabéns por toda conquista, foi sofrido kkk mas valeu a pena né.
ResponderExcluirKkkkkkkkkk e olha q nem contei tudo! Entre essas histórias tem muita coisa q não contei! Hahahaha
ExcluirSimmm, valeu a pena demais! Faria tudo de novo com certeza!